Conectados e cansados

A tecnologia alterou nossa capacidade de concentração com consequências para a saúde mental e emocional

Gabriel Pardal
2 min readJun 6, 2023

Celebramos avanços tecnológicos e ferramentas que nos ajudam a realizar tarefas, entretanto, a ironia é que em vez de trabalhar menos e ganhar mais, estamos trabalhando mais e ganhando menos. Outro dia postei este texto-desenho naquela rede de fotos. Minha intenção era provocar um pensamento sobre o estado de cansaço que tenho sentido e percebido entre amigos e conhecidos próximos.

Dias depois li o texto da Vera Iaconelli e senti alguma relação nos destaques abaixo:

“Quando as pessoas se queixam de que a geração Z é menos propensa ao mercado de trabalho atual e à aquisição de patrimônio, esquecem de se perguntar a que esse comportamento responde. São jovens que viram os mais velhos se dedicarem ao trabalho de forma insana para chegarem na velhice com poucas perspectivas de uma aposentadoria decente. O tempo de aproveitar a vida, esse que se projeta para depois da árdua jornada em busca de estabilidade, se mostra pouco promissor para essa geração.”

“Outra questão é que o acúmulo de bens, tão valorizado entre nós, não se organiza mais no eixo carros-imóveis-previdência. Os jovens já não se imaginam lutando anos pela aquisição cada vez mais improvável desse patrimônio. Sendo geração que entendeu que o fim do mundo está sempre à espreita, só lhes resta viver o agora.”

Mas o que é esse “viver o agora”? Se é fazendo dancinhas no TikTok, gravando stories no Instagram, trancado no quarto trocando mensagens pelo WhatsApp, então tô fora. O modelo de trabalho está velho, mas o jovem modelo de “aproveitar a vida” tampouco é tranquilo.

Acho que um agravamento da sensação de cansaço é consequência do estado de hiperconectividade que é a marca desta era. O Brasil é o terceiro maior consumidor de redes sociais em todo o mundo. YouTube, Facebook e Instagram são as mais acessadas, TikTok, Kwai e Twitter aparecem na sequência.

Através desses perfis que criamos para estar por dentro do que está rolando e nos conectarmos com as pessoas, recebemos todos os dias uma enxurrada de novidades impossíveis de dar conta. Sempre tem uma notificação pra conferir, uma mensagem pra ser respondida, um artigo pra ler, um vídeo pra assistir. Até o momento de diversão se tornou numa tarefa por produtividade: assistir todas as temporadas de uma série, ler todos os livros, fazer todas as receitas, etc. Gostamos de dizer que conseguimos dar conta de fazermos mais de uma coisa ao mesmo tempo. Portanto, se ainda não chegamos ao burnout, então é porque estamos passando pela fase do déficit de atenção. Aliás, ter déficit de atenção é o novo normal.

Alguma dúvida do por que estamos exaustos?

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Gabriel Pardal

Artista. Escreve sobre processos criativos, inspiração e criatividade nos dias de hoje. https://www.gabrielpardal.com/